kony76 Escreveu: 07 nov 2020, 13:49
Se eu recebesse um orçamento daqueles resolvia as coisas com a Nissan, não ia para as redes sociais. Se eu tivesse razão, com certeza que a coisa seria resolvida.
Eu também não o fazia, e acredito que maioria das pessoas o faz pela notoriedade que estes casos assumem. De certeza que existem mais casos destes em que as pessoas conseguiram um entendimento sem recorrer as redes sociais.
Infelizmente também em muitos casos as empresas (empresas no geral) abusam do "poder" que tem para não assumirem as suas responsabilidades, o que provoca muitas vezes o desespero do cliente levando-o a recorrer aquilo que tem mais a mão. Vou dar um exemplo.
Recentemente comprei um smartwatch numa loja de material informático, uma das maiores lojas a nível nacional. Após dois meses de uso o relógio ficou em bootloop fazendo com que eu não o conseguisse utilizar. Abri um pedido de RMA na área de cliente da empresa e foi-me pedido que envia-se o relógio para analise, passado dois dias recebo isto:
Inconformidade do equipamento recebido
Prezado(a) cliente,
Agradecemos o tempo que aguardou pelo nosso contacto enquanto conduzíamos a inerente averiguação para o processo em epígrafe.
Após inspecção visual e inerente análise técnica detectámos irregularidades na condição do artigo.
Nesse sentido, o mesmo encontra-se em inconformidade, sendo que poderá encontrar nesta comunicação as respectivas irregularidades documentadas com fotografias em anexo.
Condição do equipamento:
Completo. Artigo com riscos superficiais no ecrã, no vidro do sensor e na traseira do relógio. Bracelete rachada.
Dadas as circunstâncias supra mencionadas, o seu processo encontra-se automaticamente condicionado com uma das seguintes justificações:
a) Impossibilidade de troca directa ou activação de garantia devido à condição/integridade terem sido afectadas e/ou estar incompleto;
b) Impossibilidade de troca directa e accionado o procedimento de activação de garantia nos trâmites actualmente estipulados na legislação em vigor devido à condição/integridade terem sido afectadas e/ou estar incompleto;
A partir do momento em que existem danos estéticos e/ou marcas adicionais no artigo estamos automaticamente limitados na resolução do processo.
Nesse sentido, é importante referir que é impreterivelmente necessário garantir que o artigo esteja rigorosamente novo (em perfeita condição), com todos os acessórios imaculados, completo e sem qualquer tipo de dano/marca para que possamos dar continuidade ao processo de troca/devolução.
No caso da alínea a) não será aplicável qualquer prazo para verificação/resolução, uma vez que este dependerá exclusivamente e condicionalmente do fabricante e/ou fornecedor/centro técnico autorizado.
A ******* é apenas o ponto de venda, pelo que entregar um produto na *******, ou por conseguinte, num centro de assistência técnica autorizado no período de garantia, não significa automaticamente que irá ser reparado livre de custos. Após recepcionar o produto, o centro de assistência reserva-se no direito de confirmar a validade da garantia e do seu pedido para o serviço da garantia. Em caso de orçamento, a(s) peça(s) orçamentada(s) não poderá(ão) ser substituída(s) ao abrigo da garantia, conforme as condições do serviço de garantia limitada que acompanhou o equipamento.
NOTA: Todo e qualquer volume, a partir do momento em que chega às instalações, independentemente do período de tempo, nunca é aberto e/ou manuseado sem o devido registo fotográfico ser impreterivelmente realizado.
Gratos pela atenção dispensada.
Agora pergunto eu. Alguém que leia isto pode concordar com o que aqui esta? Isto alguma vez é legal? Como se não tivéssemos uma lei que regula as garantias.
Se lerem com atenção o que o texto diz, é que eu comprei um relógio, mas tenho de o manter imaculado se quero que esteja abrangido pela garantia. Ora se compramos um artigo talvez seja para lhe dar uso, portanto é impossível mante-lo imaculado.
A empresa dá-se ao desplante de escrever duas ou três alíneas como se isso fosse lei e fossem eles a definir quando um artigo deixa de estar em garantia.
Perante isto enviei um email em resposta, em que começo por perguntar se o email enviado era alguma piada de mau gosto, e entre muitos argumentos, que ia expor o caso nas redes sociais e em fóruns da especialidade de tão ridícula que era a situação. Como último argumento fiz uma comparação:
Mal comparado é a mesma coisa que eu comprar um carro, ter um problema no motor durante o período de garantia e dizerem-me que não podem acionar a mesma porque os pneus apresentam desgaste.
Foi remédio santo. Recebi então outro email a informar que o relógio ia ser enviado para um centro de reparação. Esta semana enviaram-me um relógio novo.
Isto tudo para dizer que se as empresas assumirem as suas responsabilidades (o que muitas vezes não acontece) os clientes não precisam de expor os casos onde quer que seja. As redes sociais é uma arma ao nosso dispor e com muita visibilidade, mas só deve ser usada depois de esgotadas todas as opções.
Como a empresa acabou por resolver o assunto como deve ser, nunca cheguei a fazer qualquer tipo de queixa, ou expor o caso, mas tive que usar como argumento que o ia fazer, porque já estava a ver que quem ia ficar com o prejuízo era eu.