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Eu, como já disse noutro tópico, quanto mais olho para o mercado de energia, menos percebo.

Mas, do pouco que percebo, parece claro que este caminho dos custos de energia eléctrica se faz depender sobretudo dos custos dos combustíveis fósseis, no sentido em que o mercado marginalista determina que é o produtor mais caro que impõe todo o preço de todo o mercado.

Não sendo possível filtrar os electrões por origem como é óbvio, não consigo imaginar uma forma de equilibrar esta idiotice.
Por um lado, é impensável que uma eólica que custa XX (independentemente do resto, quando produz produz, quando não produz não produz) possa vender a energia a 10x XX só porque sim. Por outro lado, se houver outra fonte de energia que custa 20x XX no "mix", quem é que quer produzir a XX?

Isto é para mim um imbróglio muito difícil de descalçar. Certo é que, enquanto o mercado marginalista durar, só o consumidor é prejudicado

BrunoAlves Escreveu: 30 out 2021, 00:44 Isto é para mim um imbróglio muito difícil de descalçar. Certo é que, enquanto o mercado marginalista durar, só o consumidor é prejudicado

Se a UE mantiver a sua posição em relação ao mercado marginalista, pelo menos é necessário criar concorrência ao gás/carvão quando as renováveis não chegam para satisfazer toda a procura. Como disse, neste momento estamos numa situação em que as hídricas podem fazer "chantagem" de preços, pois o gás ainda sai mais caro do que a energia deles. Mas existindo um outro player para além do gás o cenário muda de figura. É aqui que entra a aposta europeia no hidrogénio verde. Como forma de armazenamento de energia permitirá empurrar o preço para baixo, pois aí os restantes produtores já não podem colocar os seus preços aos do carvão. Claro que no curto prazo não é uma alternativa já que não há projetos suficientemente desenvolvidos e em número que consigam mexer com isto, mas concordo que seja o caminho a percorrer pois esta dependência externa de gás põe toda a Europa numa posição muito desfavorável. A Rússia não se faz rogada em jogar com o seu peso no mercado para colocar pressão na Europa, e não é expectável que isso venha a mudar só porque sim.

A 100€/kW.h não faz mais sentido o storage em baterias do que em hidrogénio? Em tecnologias que permitem muitos ciclos, como LiFePO4, com 2k ciclos (um valor conservador) fica a 0,05€/kW.h o sobrecusto do armazenamento. Ainda não estamos lá (nas células talvez, mas somar inversores, instalação, etc, faz crescer muito o custo).

Não imagino o storage em hidrogénio a ficar barato, antes pelo contrário...

Para mim a solução ideal é uma combinação de solar, vento, hidro e storage em baterias. Mas posso estar enganado.

As baterias, especialmente se distribuídas, têm a vantagem adicional de prevenir cortes por quebras de linhas/sobre-cargas, devido a serem extremamente rápidas a reagir.

Em armazenamento descentralizado também creio que há vantagens nas baterias, embora com a crescente procura por baterias para locomoção não sei até que ponto pode haver aqui um crunch de recursos, pelo que uma forma alternativa de armazenamento seja positivo a meu ver. Até porque a ideia do hidrogénio passa também por ir substituindo os outros usos de gás natural, assim que consigo imaginar pólos de armazenamento em maior escala onde o hidrogénio tanto possa ser produzido para armazenamento como para utilização doméstica a sobretudo industrial. O aquecimento a temperaturas muito elevadas necessário para alguns processos não é eficiente utilizando eletricidade. Para além disso existe toda uma indústria em redor do gás natural e de produtos derivados, nomeadamente fertilizantes.
É bem provável que venhamos a ver centrais de produção de hidrogénio com uma combinação de eletrolisadores, baterias e fuel cells.

Ninguém comenta a EVaz também ter mudado para tarifário indexado ?
(ou está a ser debatido noutro tópico que não sigo?)

Quanto tempo vão os grandes aguentar o prejuízo?

Como é que há um fornecedor a prometer na publicidade preços estáveis durante 5 anos?

Provavelmente porque desde que apareceu a Miio praticamente ninguém se lembre da EVAZ
Em rigor até foram os primeiros a indexar os preços ao OMIE, mas ao contrário da Miio acabaram por fixá-los e só agora voltar a mexer. O "problema" para eles é que ao contrário da Miio não oferecem rigorosamente nada de vantajoso sobre outros comercializadores que têm muito melhores preços. Imagino que em breve acabem por ir ao charco

Em relação a essa oferta da Iberdrola (acho que era da Iberdrola não era?) dos 5 anos, 2 coisas:
- o valor diário/termo de potência é um assalto!
- os valores de energia são assim-assim para a oferta actual dos grandes comercializadores. Assumindo que a energia volta a valores pré-crise (se não voltar estamos todos lixados) acaba por ser uma oferta desinteressante e com melhores alternativas. Isto agora, daqui a um ano ou dois se calhar até vou achar que estava muito enganado

BrunoAlves Escreveu: 03 dez 2021, 08:55 Imagino que em breve acabem por ir ao charco

Está respondido a questão do Alex.

Será esta a estratégia dos grandes. Manter os preços até os pequenos colapsarem.

Não concordo com essa visão. Os "grandes" estão a fazer o mesmo que fazem no mercado residencial, afinal não é assim que o modelo os posiciona?

Eu como cliente estou até agradecido que existam grandes comercializadores que tenham aprovisionamento que lhes permita manter preços razoáveis. Não fico contente com a queda dos comercializadores, mas como cliente estou contente que não tenha de pagar o kWh a 35cts.

O problema maior aqui é instabilidade / incerteza em relação aos preços no futuro.
Se eu soubesse que o preço se ia manter ou aumentar no futuro, cobria o telhado inteiro com painéis solares.
Assim como empresas investiriam em produção renovável e armazenamento.
Mas o mais provável é que daqui a 1 ano já tenha voltado tudo ao normal e o investimento afinal dar prejuízo.

BrunoAlves Escreveu: 03 dez 2021, 11:12 Não concordo com essa visão. Os "grandes" estão a fazer o mesmo que fazem no mercado residencial, afinal não é assim que o modelo os posiciona?

Claro que estão, então o modelo de venda de energia não é o mesmo? Da mesma maneira que tem interesse que no modelo residencial colapsem alguns (e pelo menos dois já foram) também tem o mesmo interesse na ME.

Alguns dias atrás um jornalista da SIC explicava que Portugal é muito pequeno para o número de empresas comercializadoras de energia existentes.

BrunoAlves Escreveu: 03 dez 2021, 11:12 Eu como cliente estou até agradecido que existam grandes comercializadores que tenham aprovisionamento que lhes permita manter preços razoáveis. Não fico contente com a queda dos comercializadores, mas como cliente estou contente que não tenha de pagar o kWh a 35cts.

Eu como cliente também fico contente... por agora. Porque no futuro se colapsarem alguns quem vai ficar a perder somos nós, deixa de haver mais concorrência. Como sabemos os grandes até tem uma aptidão para combinar as coisas entre eles.