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Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 08 set 2019, 23:32
por mjr
Temos tido muita discussão sobre o modelo da mobilidade elétrica em Portugal espalhada por vários tópicos, mas gostava que concentrassem aqui essa informação para ser mais facilmente discutido o assunto.

Como sabem, o modelo atual foi elaborado há uns 10 anos atrás e consiste numa "cópia" do modelo da SIBS, onde existe uma entidade central agregadora de informação, a EGME (que neste momento é a Mobi.e), os fornecedores de eletricidade que são os CEME, e os fornecedores do serviço de carregamento, os OPC.

Roubo esta imagem da ERSE que ilustra os fluxos financeiros do processo:

Imagem

Este modelo tem como todos os modelos vantagens e desvantagens que já foram enumeradas em vários sítios:

- Com um só cartão podemos carregar em todo o lado
- Permite que com base na regulamentação do setor elétrico em Portugal seja possível que um OPC forneça o serviço de carga sem efetivamente vender eletricidade. Levanta a principal barreira à entrada que era a complexidade de vender eletricidade para a instalação de postos.

No entanto:

- Expõe toda a rede de carregamento a falhas da EGME.
- Dificulta o pagamento no local de fornecimento do serviço de carga.

Etc...

Que alternativas existem? É necessário rever toda a legislação do setor elétrico para essas alternativas? Ou será possível ter um modelo mais ágil sem alterar essa legislação?

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 00:10
por migle
Aproveito para responder aqui, local mais adequado, à sugestão de que "basta que sejam levantadas as restrições a preços diferentes nos OPC consoante o CEME". Eu acho que não basta, longe disso, embora pudesse ser uma aproximação.

O modelo existente impossibilita a criação de outros modelos de negócio completamente diferentes do da actual rede pública. Por exemplo, um operador ligado a um construtor automóvel que, com a venda dos seus automóveis, possa oferecer carregamentos gratuitos para o resto da vida.

Palpites:
  • Em primeiro lugar, tem de cair a impossibilidade de vender electricidade para a ME... O conceito de CEME tem de ser mais abrangente. Deve ser possível vender electricidade para a ME de uma maneira mais fácil. A Tesla, por exemplo, deveria ser enquadrada como CEME fora da rede pública. Um restaurante, condomínio, etc, todos deveriam poder vender electricidade para a ME de forma regulada, com qualidade, sem terem de se obrigar ao modelo existente. A supra-citada "complexidade de vender electricidade" só existe na cabeça de meia-dúzia de entidades, porque, convenhamos, é uma coisa muito simples. Basta uma lei. Nem entra em choque com a regulamentação existente, porque estamos a falar de vender electricidade para um fim específico, a ME. É óbvio que interessa que a rede da Tesla seja enquadrada na lei. Seja a Tesla ou outra que funcione em moldes semelhantes, nós queremos que os consumidores possam reclamar se por acaso não receberam a energia que estavam à espera, ou se esta não obedeceu aos padrões de qualidade esperados, e não o podem fazer se hipocritamente se estiver a cobrar estacionamento.
  • Depois, tem de cair a obrigatoriedade de que um carregador num espaço de acesso público esteja obrigatoriamente ligado à rede pública única. Este aspecto obriga a que qualquer rede que pretenda funcionar com um modelo de negócio que não seja compatível com o da rede pública única (por exemplo, uma rede em que todos os carregamentos são à borla, ou que tem uma flat-fee, ou o diabo a 4, não quero saber), seja obrigado a esconder-se por trás de cancelas, como o faz a Tesla, obrigando os seus utilizadores a voltinhas mais estranhas, sem que isso traga qualquer benefício para o conjunto dos utilizadores.
  • Para não dizer que permitia também estas redes instalarem carregadores no domínio público, vá... Reduzia a coisa... Obrigava simplesmente a que carregadores instalados no domínio público não discriminassem marcas. A existência de carregadores na rua já é benefício, contrapartida suficiente para a sociedade... Não é preciso obrigar a integrar numa rede pública única.
Para começar, seria isto. Talvez depois destas medidas já ninguém desse tanta importância ao tal regulamento...

PS: Sabendo que em países onde não existe uma rede única obrigatória, o normal é o mesmo identificador RFID servir não só para quase todos os carregadores num país, como também servir nos países vizinhos; e tendo já dito que a tal "complexidade de vender electricidade" na realidade não é nada complexa... sobram zero vantagens para o modelo actual.

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 07:31
por caz
Estou totalmente de acordo contigo. Apenas com uma "pequena" excepção: não deveriam ser permitida redes fechadas em espaços de acesso público. E em espaços de acesso público não se poderia existir diferenciação de preços consoante as marcas.

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 12:01
por jfr2006
O modelo em teoria até podia ser muito bonito e funcional, mas na prática esbarra numa lei velha e datada criada para proteger os interesses e o monopólio de determinada empresa, de forma a que certos tachos possam ser garantidos...

Enquanto existir essa barreira com base numa lei velha e datada, nada a fazer :evil: :twisted:

Quantas vezes não foi já dito que os chamados aluguer de contador iam ser ilegais e desaparecer e na verdade estes continuam a existir sobre um nome dissimulado como taxa de acesso, taxa de potência, etc... :evil: :twisted:

Para mudar, a lei tem que mudar e de forma radical...

Em termos de analogia com o sistema de venda de combustíveis, é como só a galp pudesse vender combustível neste país.... :twisted:

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 13:56
por Orlando
Quanto mais simples melhor:
1 posto+1app+1cartão de credito
ou
1 posto+1 terminal MB
Et voilá!

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 13:58
por t3lmo
migle Escreveu:
09 set 2019, 00:10
Por exemplo, um operador ligado a um construtor automóvel que, com a venda dos seus automóveis, possa oferecer carregamentos gratuitos para o resto da vida.
Esse exemplo já existe com um CEME de uma marca (BMW) e outro se seguirá com um acordo de outro CEME e a Nissan.

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 15:55
por kony76
Orlando Escreveu:
09 set 2019, 13:56
Quanto mais simples melhor:
1 posto+1app+1cartão de credito
ou
1 posto+1 terminal MB
Et voilá!
Estou de acordo. Acrescento já agora mais uam coisiha.

Só 1 preço final

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 18:32
por pemifer
Este é o modelo!
ERSE-modelo.jpg

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 19:35
por mjr
Nestes modelos não existe a figura de OPC, quem vende a eletricidade é o CEME. Como sabem em Portugal só comercializadores de eletricidade podem vender eletricidade.

Eu percebo que queiram ir pela maneira mais simplista e imediata que é uma empresa compra eletricidade tal como nós compramos em casa ou numa empresa e depois vende essa eletricidade. Um modelo muito bom mas infelizmente impossível de concretizar, tal é a teia que entretanto foi criada (tipo a dificuldade que será o Brexit caso sempre vá para a frente).

Ter CEMEs a vender diretamente eletricidade tem dois problemas:

- Barreira muito grande à entrada de novos players. É preciso ter uma dimensão considerável para conseguir entrar no mercado de compra e venda de eletricidade.
- Não será possível, out of the box, usar o cartão/App/etc de um CEME nos postos de outro CEME.

Sim, tem vantagens. Permite logo de imediato emitir uma fatura de venda com pagamento no local. Nesse aspeto é super simples.

Re: Modelo da Mobilidade Elétrica em Portugal

Enviado: 09 set 2019, 22:22
por BrunoAlves
pemifer Escreveu:
09 set 2019, 18:32
Este é o modelo!
Imagem
Isto. É só isto, ponto. Sem tirar nem por. Parem de inventar, de se escudar numa lei decrépita e castradora, mude-se a lei para implementar isto. Só isto.